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Projeto Tarântula é contemplado pela Lei Paulo Gustavo e fortalece a necessidade de incentivo ao audiovisual brasileiro

Foto do escritor: Lucas RogerioLucas Rogerio

Em 2024, o roteirista, diretor e autor Mario Oshiro foi laureado como vencedor na Competição LONGAS do IX GUIÕES – Festival do Roteiro de Língua Portuguesa. Mario, que se define como um “contador de histórias”, é do ABC Paulista e é um nome de destaque no cenário do audiovisual brasileiro.


Questionado sobre as oportunidades que essa laureação trouxe ao seu projeto, Mario reflete também sobre as conquistas pessoais. “Agora temos um incentivo ainda maior para finalizar esse roteiro, que considero tão importante, e buscar sua produção da maneira mais comprometida possível com o público”, conta. “Além disso, estou tendo a oportunidade de contar com a consultoria de roteiro da talentosíssima e maravilhosa Luh Maza, cuja sensibilidade tem enriquecido cada linha da história”, completa. “Inclusive, estou trabalhando com a leitura sensível de Charles Morais, a pesquisa cuidadosa de Mauro Victor e a produção executiva de Marcela Macedo. Esse dream team tem transformado Tarântula em algo muito especial”, finaliza o autor.

Imagem: divulgação/Mario Oshiro

O projeto Tarântula busca trazer à tona um capítulo sombrio e pouco discutido da história do Brasil: a Operação Tarântula. Realizada no final da década de 1980, em São Paulo, essa ação policial teve como principais alvos travestis e a população LGBTQIA+ que vivia no centro da cidade.


Sob o pretexto de “combater a Aids” — em um período marcado pelo medo e pela desinformação sobre a epidemia —, a operação visava exterminar as travestis das ruas, tratando-as como uma ameaça à ordem pública. A repressão era violenta e desumanizadora, contribuindo para estigmatizar ainda mais essa população e reforçar preconceitos que ecoam até hoje em nossa sociedade. Esse contexto histórico é fundamental para entender as raízes de muitas das lutas sociais que permanecem em curso. Tarântula utiliza esse cenário para refletir sobre temas como opressão, resistência e humanidade, destacando a importância de olhar para o passado para construir um futuro mais inclusivo e consciente.


“Nosso objetivo é não apenas contar uma história, mas também provocar reflexões sobre os direitos e a dignidade das pessoas LGBTQIA+. Ao trazer à tona essa memória, buscamos promover o diálogo e fomentar a empatia em relação às questões de diversidade e direitos humanos”, explica Oshiro.

Achados & Perdidos: HQ também é um trabalho recente de Mario Oshiro


No último dia 14 de novembro de 2024, foi lançada Achados & Perdidos, a nova HQ escrita por Mario Oshiro e ilustrada por Dominic Amaral. Contemplada pelo Programa de Ação Cultural – ProAC/SP, a obra transporta os leitores para uma realidade distópica e, ao mesmo tempo, familiar, onde a solidão e o caos da vida urbana se misturam a reflexões profundas sobre o sentido de existir. Além de roteiros bem-sucedidos, Oshiro se arrisca na literatura de diversas formas.


Achados & Perdidos apresenta Kenzo, um homem que, em uma viagem comum de metrô, percebe que está perdido — não apenas fisicamente, mas também em sua própria identidade. Diagnosticado com SAP (Síndrome dos Achados e Perdidos), ele é cadastrado como “falso magro de barriguinha saliente e nariz de batata” e enviado para um depósito onde pessoas que perderam o sentido da existência são armazenadas.


Nesse lugar frio e esquecido, Kenzo encontra Pedro, um jovem perdido há um ano. Unidos por uma solidão comum e esmagadora, os dois desenvolvem uma conexão que ressignifica a ideia de estar perdido, transformando-a em um improvável romance cheio de melancolia, humor e momentos de fuga clandestina para a superfície. Porém, tudo é abalado quando uma notícia inesperada ameaça mudar seus destinos.

Com uma narrativa tragicômica e cheia de nuances, Achados & Perdidos explora temas como identidade, conexão humana e a busca por sentido em uma São Paulo que transforma pessoas em objetos esquecidos.

Um olhar crítico sobre o audiovisual brasileiro


Apesar do reconhecimento internacional, como a indicação de Ainda Estou Aqui ao Oscar — com Fernanda Torres concorrendo como Melhor Atriz —, Mario Oshiro critica o cenário do audiovisual brasileiro, que enfrenta desafios há anos. “Acredito que esse prêmio deve nos levar a refletir sobre a necessidade de uma mudança estrutural na indústria cinematográfica brasileira, especialmente no que diz respeito ao reconhecimento e apoio aos roteiros desde sua gênese até os créditos finais que rolam na tela”, afirma o roteirista.

“A trajetória de um roteiro é longa e cheia de reviravoltas. Como roteiristas, investimos horas, dias, anos de nossas vidas, frequentemente à margem do financiamento formal, apostando na potencialidade de nossas histórias e na esperança de que, algum dia, elas sejam reconhecidas e financiadas. A conquista no edital da Lei Paulo Gustavo mostra que o caminho está se abrindo, mas ainda há muito a percorrer”, reflete Mario.


“Precisamos de políticas públicas que democratizem e financiem essa etapa criativa essencial, para que não percamos narrativas e vozes autênticas da nova geração”, finaliza.

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