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Foto do escritorLucas Rogerio

Pesquisa do Portal Futuro Livre mostra desinteresse social na política; Jilmar Tatto comenta

O Portal Futuro Livre realizou uma pesquisa com nossos leitores assíduos ou não, e o resultado mostra que 52,5% dos entrevistados não sabem diferenciar o trabalho de um Vereador e de um Deputado, funções extremamente essenciais. Se não bastasse menos da metade saber a diferença entre os dois cargos públicos, cerca de 3/10 pessoas não gostam de política.


Conversamos com Jilmar Tatto, político brasileiro, que é filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), e foi Deputado Federal, Deputado Estadual e Secretário de Transportes do Município de São Paulo, SP.



Imagem: Jilmar Tatto/ Direito de imagem: Filipe Araújo


Sobre o resultado da pesquisa, a visão de Jilmar é clara:


"Se você não faz política, se o jovem não faz política, se os cidadãos e cidadãs não fazem política, alguém está fazendo por você. Todo ser humano é um político. A sociedade democrática se dá de duas maneiras: uma através da representação, que é a eleição, o voto, e a outra através da participação popular. Então, só com a participação política de todos que nós vamos conseguir mudar esse país, mudar a sociedade.", Tatto complementa dizendo que não existe o apolítico, e cita Bertolt Brecht, ao dizer que quem não faz político é um analfabeto político e perrmite que os outros façam política por você.


Bertold Brecht nasceu em 1898 e morreu em 1956, e foi um dramaturgo, romancista e poeta alemão, que tinha uma obra que fugia dos interesses da elite dominante, e visava esclarecer, no caso, questões sociais da época. Fonte: ebiografia





29,25% das pessoas dizem gostar de política. É o que aponta a pesquisa realizada pelo Portal Futuro Livre, e que está na íntegra no nosso perfil oficial no Instagram (www.instagram.com/portalfuturolivre).


O desinteresse social pela política é explicado pelo cientista político William Nozaki. Segundo ele, a opinião pública interpreta, na maioria das vezes, política como algo relacionado a partidos e lideranças eleitorais. "Em uma democracia moderna e de massas, os partidos e as eleições são fundamentais, mas como vivemos em um país com muitas desigualdades, violências e corrupções, parte da população não se sente representada pelas instituições tradicionais, isso pode tornar a política desinteressante.", disse Nozaki ao Portal Futuro Livre.


Como ele explica, a política é mais do que isso e está presente no cotidiano de todos, nas associações de bairro, coletivos culturais, igrejas e clubes, discussões de redes sociais e afins.


Sobre as redes sociais, questionamos um leitor do Portal Futuro Livre, que participou da pesquisa, sobre qual a porcentagem que respondeu gostar de política, e a resposta dele foi 75%, mas a realidade é que menos de 30% gostam, e ele justifica ter "chutado alto":


"Devido a alta taxa de comentários sobre política que são feitos todos os dias, em diversos meios de comunicação, seja na TV ou redes sociais, e isso deveria motivar as pessoas a se interessarem mais sobre o assunto."

Marcos Vinicius Smidt Rivas, leitor do Portal Futuro Livre


William Nozaki ainda explica que, mesmo quem não gosta de política, acaba fazendo ou participando dela ainda que de maneira indireta.


"A política é a arte de enfrentarmos coletivamente o medo e a esperança, a violência e a liberdade. A sociedade é política. Quem não gosta de política está fadado a ser dirigido por quem gosta."

William Nozaki, cientista político e economista


Para Jilmar Tatto, perguntamos o motivo da sociedade participar pouco da política pública brasileira. Leia na íntegra a resposta dele:


Porque a elite não quer que o povo participe da política. Não incentiva a organização popular, a organização do povo. Isso não é ensinado nas escolas. O currículo escolar não incentiva a participação social justamente por isso: enquanto a população não participa, outros participam por ela. E a elite brasileira não quer de maneira alguma que o povo participe da política e assim a sociedade fica cada vez mais anestesiada. Às vezes reclama e não sabe que às a culpa é dela também por não estar participando diretamente das organizações sociais, dos partidos políticos.



Imagem: Jilmar Tatto/ Direito de imagem: Filipe Araújo


Tatto, ainda em conversa com Portal Futuro Livre, fala mais sobre política:


Qual é o papel do político?


O papel do político é representar o povo, prestar contas. É defender a população de onde ele está exercendo o mandato. Isso quando você fala em político como parlamentar, prefeito, governador, presidente da República, senador, porque todos nós somos agentes políticos. A partir do momento que esse agente foi eleito, apresentou um programa nas eleições, tem que cumprir esse programa e o eleitor, a população tem que acompanhar o trabalho dessa pessoa que foi eleita para te representar. Agora com a internet fica cada vez mais fácil acompanhar o posicionamento de cada um, o que cada um está fazendo. Se está preocupado em melhorar a vida do povo, em fortalecer o Estado, o SUS, uma educação pública gratuita, universal, um transporte público de qualidade. Tudo isso tem que ser acompanhado para ver se está sendo feito direito.


Qual a diferença entre fazer política e fazer 'politicagem'?


É fazer Política com P maiúsculo. Defender aqueles que mais precisam. Como em uma família que tem quatro filhos: você gosta de todos, mas quando um fica doente, fica mais fragilizado, que está com problemas, você tem que acompanhar, tem que ter um carinho especial. Pra mim, fazer política é inverter prioridades. Priorizar aquelas pessoas que mais precisam, que estão passando fome, aquelas pessoas que têm dificuldade de entrar em um cursinho, que tem dificuldade em entrar na universidade. Você tem que ter políticas públicas para garantir acesso para essas pessoas. O que foi feito nos governos do Partido dos Trabalhadores. O PROUNI, por exemplo, fez com que milhares de pessoas tivessem acesso à universidade, coisa que principalmente o jovem, preto, da periferia não tinha. E fazer politicagem é justamente o contrário. É você privatizar para garantir o lucro das empresas. Privatizar a escola pública, privatizar a saúde, mentir para o povo, falar que está fazendo uma coisa e fazer outra. Exatamente isso que a direita faz, ela faz muitas vezes um discurso com pensamento social, mas na verdade defende um Estado neoliberal, um Estado de poucos, um Estado que não arrecade e invista para que mais pessoas tenham acesso às áreas sociais. Isso pra mim é politicagem.


O que os governantes podem fazer para que a população venha se interessar cada vez mais pela política?


Incentivar cada vez mais a participação popular, através dos conselhos de representantes, fazer plebiscitos, referendos, organizar a população através de conselhos, sejam eles da saúde, educação, juventude, combate ao racismo, mulheres, negros e negras, olhar para o grupo LGBTQIA+. Você pode incentivar. Os governantes têm uma capilaridade muito grande e tem autoridade, influenciam, então incentivar a participação popular, ajudar a organizar o povo e que seja de forma perene, não só na época que está governando. Investir pesado na cultura que é o que forma as pessoas profundamente, a cultura, a educação, o lazer. Fazer com que essa criatividade do povo brasileiro, principalmente da periferia, da juventude, possa realmente aflorar. Tem muitos talentos na periferia que não são conhecidos, não são nem despertados porque não tem incentivo dos governantes. É dessa maneira que eu acho que eles podem fazer a população se interessar por política, incentivando a participação popular, a criatividade, a cultura, o estudo, a educação, o esporte, o lazer. Assim que a gente muda a sociedade.



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