Nos últimos anos, o embate entre direita e esquerda tem dominado o debate público em diversos países, incluindo o Brasil. O que deveria ser um espaço para a troca saudável de ideias se transformou em um campo de batalhas ideológicas, onde a lógica e o interesse coletivo muitas vezes são deixados de lado. Esse cenário, além de atrasar os avanços necessários para resolver problemas reais, reflete a falta de educação política da população, que perpetua equívocos como a visão simplista de que a direita é destinada aos ricos e a esquerda aos pobres.
A polarização política não é uma novidade, mas sua intensidade aumentou com as redes sociais e a facilidade de divulgação de informações – ou desinformações. A luta entre direita e esquerda, especialmente no Brasil, tem se tornado uma guerra em que cada lado busca aniquilar ou outro, em vez de encontrar um terreno comum para construir soluções.
Esse embate contínuo gera uma série de consequências graves:
Paralisação das políticas públicas: Projetos e reformas essenciais são frequentemente interrompidos ou rejeitados por pura rivalidade partidária. Em vez de priorizar o interesse público, muitos políticos age para enfraquecer adversários, mesmo que isso prejudique a população.
Radicalização das bases: O discurso extremo de líderes e influenciadores cria um ambiente tóxico em que o diálogo e o respeito são substituídos pelo ódio e pela intolerância.
Perda de foco no essencial: Problemas urgentes, como educação, saúde, segurança e desigualdade social, são relegados para segundo plano enquanto a atenção pública se volta para conflitos ideológicos sem fim.
A falta de educação política no Brasil é um dos pilares que sustenta essa polarização improdutiva. Muitos brasileiros ainda defendem uma política de debate entre “ricos x pobres”, alimentando a falsa noção de que a direita defende exclusivamente os interesses das elites econômicas, enquanto a esquerda é a única voz em defesa das classes populares. Essa visão, embora confortável para narrativas simplistas, não reflete a complexidade das atuais políticas.
Direita e esquerda não são monolíticas: Ambos os espectros têm múltiplas vertentes e propostas que, em muitos casos, se complementam. O liberalismo econômico de direita, por exemplo, pode coexistir com políticas sociais progressistas, associadas à esquerda.
Política é sobre escolhas de governança, não etiquetas: A redução da política a rótulos impede que as pessoas analisem propostas e candidatos de forma crítica. Em vez disso, muitas vezes se escolhe um lado por identificação emocional ou cultural, sem avaliar os impactos práticos das ações propostas.
O foco excessivo na briga direita x esquerda desvia a atenção das verdadeiras questões que afetam o dia a dia dos cidadãos. Enquanto as pessoas estão presas em discussões sobre quem tem a razão, problemas como a reforma tributária, o combate à corrupção e o investimento em infraestrutura continuam a avançar lentamente – ou nem sequer saem do papel.
Além disso, essa rivalidade cega dificulta as alianças. Governos e legislaturas precisam da colaboração entre diferentes correntes para aprovar medidas efetivas, mas a polarização frequentemente impede o diálogo.
Superar essa guerra ideológica exige esforços em duas frentes principais:
Investimento em educação política: É fundamental que escolas e outros espaços de formação ensinem desde cedo o que signifiquem os espectros políticos, como funciona o sistema democrático e por que é essencial avaliar propostas e não apenas rotular.
Valorização do diálogo: Políticos, jornalistas e influenciadores precisam adotar um tom mais conciliador, incentivando a busca por soluções conjuntas em vez de incitar divisões.
Quando entendermos que o progresso não depende da vitória de um lado sobre o outro, mas da soma de ideias para resolver problemas reais, começaremos a caminhar para um futuro mais justo e eficiente.
A política, no seu sentido mais puro, é uma arte de governar para todos – e não apenas para uma parcela da população ou para atender interesses ideológicos. Enquanto continuamos a tratar adversários como inimigos, estaremos condenados a permanecer no atraso.
O debate entre direita e esquerda tem feito mais mal do que bem para a sociedade. Ele reforça preconceitos, divide a população e impede que as verdadeiras prioridades sejam resolvidas.