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Redação

Com a palavra, Renata Bento


Em um mundo cada vez mais conectado, onde smartphones são extensões de nossas mãos e redes sociais ditam relações sociais, os jovens são tanto protagonistas quanto reflexo dessa era digital.

A internet oferece acesso a um vasto universo de conhecimento, permitindo que busquem informações sobre qualquer assunto com apenas alguns cliques. Esses espaços digitais proporcionam um senso de comunidade, permitindo que expressem opiniões, compartilhem interesses e participem de discussões globais. Redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas são meios de comunicação onde podem manter contato com amigos, familiares e colegas de forma rápida e constante. Isso promove uma sensação de conexão e pertencimento, o que é essencial para o desenvolvimento social e emocional dos adolescentes. Entretanto, essa sensação não se confirma na realidade. Ao contrário disso, adolescentes em sua vida real, se sentem ansiosos, e com grande dificuldade de conexão, pertencimento e aprofundamento nas relações.

É inquestionável o quanto o mundo digital através dos avanços tecnológicos, nos trouxe de crescimento em vários setores, como por exemplo, a tecnologia utilizada no campo da saúde, na área médica hospitalar, nos transportes, entre outros. Mas não é esse avanço que nos preocupa, quando pensamos nas crianças e adolescentes.


Hoje, o que vem sendo observado, é o quanto o uso recreativo, através de jogos e mídias sociais, tem roubado o tempo de brincar livre, de fantasiar das crianças, bem como a formação de laços afetivos e a capacidade de criação dos adolescentes. Com isso, trazendo reflexo negativo, não só nas interações sociais, como também no âmbito escolar, com diminuição de habilidades cognitivas, empobrecimento da linguagem, baixo repertório linguístico e dificuldade de desejar e sonhar. Além disso, contribui negativamente para o sedentarismo, para o isolamento social, ansiedade, depressão e outros problemas psicológicos.

Observa-se ainda que dificulta o adormecer, deixa o sono perturbado e/ou diminuído, promove a perda do interesse e da capacidade de concentração em situações que exigem pausa, o pensamento crítico e o passo a passo para a realização de tarefas simples. Tudo precisa ser rápido, simultâneo e agora.

A constante exposição a conteúdos digitais também pode levar a comparações inadequadas e baixa autoestima, especialmente em plataformas de mídia social onde a imagem pessoal é constantemente moldada e julgada. Não é à toa que os grandes executivos do berço da tecnologia, no Vale do Silício, querem os filhos longe das telas. O objetivo é que o consumo de telas aumente cada vez mais, todavia, não deixando que os próprios filhos virem reféns das telas.

Na rotina diária do consultório, podemos observar o quanto tem sido difícil lidar com as dificuldades advindas do uso recreativo das telas. Os próprios adolescentes se queixam do tempo perdido nas telas e do desafio que é para eles, restringir próprio uso. Sentem que atrapalha a rotina e rouba o tempo, entretanto, não conseguem ficar longe dos dispositivos tecnológicos. Os pais também se sentem perdidos, ávidos por orientação e com dificuldade de implementação de novas regras de utilização na rotina diária.


Passar longo período exposto a telas pode atrapalhar um cérebro em desenvolvimento, trazendo consequências desastrosas para as mentes das nossas crianças e adolescentes. Fazer várias coisas simultaneamente, como se fossem abrindo várias “abas” ao mesmo tempo, contribui para a distração, o que prejudica o aprendizado e a memorização, e dificulta o foco e o entendimento.


Educadores, pais e a própria sociedade têm um papel crucial em orientar os adolescentes sobre como usar a tecnologia de maneira responsável e moderada. Promover um ambiente digital seguro, isto é, limitado com supervisão parental do consumo. Em contrapartida, incentivar o tempo offline para atividades físicas, sociais e culturais, cultivar habilidades de autogestão, evitar o uso de telas nos quartos antes de dormir, logo ao acordar, e durante as refeições, estabelecer horário para desligar as telas a noite, isso, em se tratando de adolescentes. Crianças menores de 10 anos precisam estar livres em contato com a natureza, brincar de inventar, montar, jogar, pintar, desenhar, fantasiar, criar soluções no brincar, e portanto, devem estar longe e desconectados das telas. Essa capacidade criativa do brincar livre da criança é a semente da criatividade no adolescente e da capacidade de resolução de problemas no adulto.

Esses são alguns passos importantes para mitigar as consequências negativas do excesso de tecnologia na vida dos jovens. A necessidade de equilíbrio entre vida online e offline é crucial para o bem-estar das crianças e dos adolescentes.

RENATA BENTO - Psicanalista - Psicóloga .Membro Associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Membro da International Psychoanalytical Association - UK.Membro da Federación Psicoanalítica de América Latina - Fepal. Especialização em Psicologia clínica com criança PUC-RJ. Perita ad hoc do TJ/Rj - RJ. Assistente Técnica em processo judicial. Especialista em familia, adulto, adolescente.


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