Quase um século após a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, os ecos da Grande Depressão ainda reverberam nas economias como a brasileira. Embora o contexto seja diferente, a dependência internacional do Brasil e a falta de protagonismo nas decisões globais permanecem evidentes. Em um mundo cada vez mais interconectado, o Brasil parece não ter aprendido as lições do passado.
Na década de 1920, o Brasil era quase totalmente dependente da exportação de café.
Quando o mercado mundial entrou em colapso, o país viu sua principal fonte de renda se evaporar.
O governo de Getúlio Vargas, em resposta, tomou medidas emergenciais: comprou estoques excedentes para evitar o colapso do setor e iniciou um processo de industrialização. Essa estratégia visava reduzir a vulnerabilidade do Brasil às oscilações externas.
Embora criticável em diversos aspectos, o governo Vargas ao menos destacou que a dependência do mercado externo era um problema estrutural. Mas o que foi uma lição clara parece ter sido ignorado por governos posteriores.
O Brasil, que hoje ocupa a 10ª posição entre as maiores economias do mundo, ainda sofre de um protagonismo limitado em fóruns globais. Dependente da exportação de commodities como soja, minério de ferro e petróleo, o país viveu novas crises que evidenciaram sua fragilidade estrutural.
Dilma Rousseff (2011-2016) tentou cegar a economia brasileira dos impactos da crise financeira global de 2008, mas o intervencionismo fiscal acabou gerando uma recessão severa. O país parecia despreparado para lidar com a queda nos preços das commodities.
Michel Temer (2016-2018) buscou atrair capital estrangeiro, mas reforçou a dependência de fluxos externos, enquanto a economia interna segue sem estímulos robustos.
Jair Bolsonaro (2019-2022) expõe, durante a pandemia, a incapacidade do Brasil de se sustentar em momentos de crise global. Dependemos de insumos médicos e vacinas importadas, atrasando o combate à COVID-19 e aumentando os custos humanos e econômicos.
Lula (2023-atual), em sua gestão atual, aposta em alianças com o BRICS e na recuperação do protagonismo internacional. No entanto, enfrenta as mesmas limitações históricas: um país refém da exportação de materiais primários e que precisa de capital estrangeiro para sobreviver.
O Brasil tem potencial para ser um ator global relevante, mas falta consistência nas políticas de longo prazo.
Em vez de investir em educação, ciência e tecnologia, que poderiam diversificar a economia e fortalecer o setor produtivo, os governos continuam a agir como se as medidas de curto prazo fossem suficientes.
A quebra de 1929 foi um chamado à industrialização, mas hoje o Brasil enfrenta desafios ainda maiores. A falta de inovação e de uma industrialização moderna coloca o país numa posição de extrema vulnerabilidade.
Quando a China desacelera, o Brasil sofre. Quando o dólar sobe, os custos aumentam e a inflação retorna.
Somos um gigante econômico incapaz de se sustentar sem muletas externas.
Se a Grande Depressão ensinou algo, foi que a dependência excessiva de fatores externos é uma receita para o desastre. No entanto, o Brasil parece preso ao mesmo ciclo. Falta coragem para tomar decisões difíceis que possam libertar o país de sua eterna condição de exportação de commodities.
O protagonismo não será conquistado enquanto o Brasil não decidir investir em si mesmo, diversificar sua economia e priorizar uma presença mais ativa em negociações globais. Até lá, continuaremos vivendo sob o impacto de crises que, embora pareçam distantes, permanecem dolorosamente atuais.